"Taíba"
Estava sentado na beira da praia, no calor da fogueira, olhando pro mar da Taíba quando chega o Gigí com sua saudação gemida. Disse que não esperava me achar no mesmo dia. Tinha esperado o ônibus voltar, perguntado à trocadora onde eu tinha descido e seguiu meu rastro outra vez. Perguntei o que ele queria me seguindo e ele respondeu que pensava que eu ia ficar feliz
-Você não gosta da vida. Não consegue ficar sozinho porque não se agüenta. Fica colocando a culpa nos outros, no pai, nos irmãos, em Caraúbas, mas é você quem tem problemas. Já até engoliu vidro e não morreu, e apesar de tudo parece que quer continuar vivo. O que te importa na vida, Gigí?
- Felicidade, respondeu.
- E o que te deixa feliz?
Nessa hora Gigí sorriu maliciosamente e lembrou das boates da Praia de Iracema, das transas e dos gringos. Tinha transado com homem aos 14 e com mulher aos 16, mas gostava mesmo é de homem. O imaginei de travesti e me pareceu que ficaria até um pouco melhor. Disse a ele que só ele quem poderia saber o que era melhor pra si, que não é errado fazer o que gosta e quem não concorda que se foda. Gigí disse que ia seguir meus conselhos.
Pediu pra ir dormir comigo, disse que ele ia dormir na praia. Fui catar lenha e quando voltei ele estava deitado de conchinha em volta da fogueira. Disse a ele que já ia embora e fui em sua direção. Me agachei e perguntei:
- Posso fazer uma coisa?
-Claro!
Dei-lhe um beijo na testa, virei as costas e fui embora. Deixei um bilhete na areia que dizia assim: “Gigí, viva a vida, vá dar o cú e seja feliz”.
Nunca mais o ví. Dei minha viagem por completa e fui pra casa.