Ainda não posso entregar as minhas mãos ao açougueiro. Tenho que lavar os anéis. Mas ele não quer esperar. "Calma, seu açougueiro! As mãos fazem o que elas querem. Não interfira!" E então um tiro no espaço. Sim, eu ouvi muito bem! Caem faíscas de pó de estrela em minhas mãos, o que as fazem brilhar. "Meu Deus! Cortem isso fora!" E de repente elas se apagam, e tudo se apaga. É a noite. Ela chega tão de mansinho que o cachorro nem late. Chega com sede de sangue. O cachorro não é suficiente. Ela precisa deixar marcado o sangue derramado, para que futuras gerações não se esqueçam. Então a noite enfia a faca no coração do amor. O amor rí: "Não sabes que sou imortal?" E a noite responde: "Não, você pode morrer. A minha faca é feita de um material especial que tem o poder de extinguir o amor." E o amor: "Oh, você não pode estar falando de..." E a noite: "Sim, ela é feita de tempo." "Não posso morrer" pensa o amor, mas ele não vê esperança. Me entrega os anéis sujos de sangue e diz adeus. Posso sentir o gosto sádico de vitória na boca da noite. O açougueiro se aproxima e tudo acontece muito depressa. Ele decepa a cabeça da noite com seu cutelo ensangüentado e diz: "Deixe a faca enfiada pois a noite se esqueceu de um detalhe: O tempo também pode curar um coração dilacerado." E o amor pergunta: "Mas quem diabos é você?" "Não interessa", responde o açougueiro. "Agora passem-me os anéis!"